Como numa obra de Ariano Suassuna
Vem que surge um pequeno ser no meio daquela
Tarde avermelhada de sol quente, chão seco e rachado.
Uma pequena gota de água molhada
Que vem lá de cima das nuvens gordas de algodão
Cai por cima do chapéu de couro do caboclo do cangaço
Escorre pela aba
Até cair no chão daquela secura toda do sertão
E como na correria de um calango que sai fugido
Da boca de uma cascavel chucalhenta
O cheiro da chuva vem molhar a brisa seca
A poeira baixa
O solo sede
Com a sede do chão
Se rompe na seca do sertão
Já vejo o sol tremulo
Entrando no horizonte
Passarinho se cala
É chuva.
Gotas se desprendem do céu
Milhares, múltiplas e infinitas.
Gotas a se perder de vista
Caem sobre a tarde avermelhada
Brotam e alimentam
O sorriso do velho
O couro do gado
A semente no chão
A magreza do sertão
Os buracos do chão se enchem de água
As bocas cheias vento se fartam
Da fé de um santinho protetor
Escorrem
Esfarelam-se
Bebendo da alegria em Folia de Reis
Alumiando todo aquele sonho dourado chamado sertão
Os pés que batem num baque solto de terra batida
Agora dança ao som da rabeca, viola, marimbau e flautas de pífano
Agradicendo a gotinha milagrosa que caiu do bucho do céu
E molhou os pés calejados da secura desse chão.
Caio Flavoni & Thais Merçon
(dedicado a Thais Merçon que me presenteou com musicas do Quinteto Armorial.).