quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O Chão Tem Sede.

Como numa obra de Ariano Suassuna

Vem que surge um pequeno ser no meio daquela

Tarde avermelhada de sol quente, chão seco e rachado.

Uma pequena gota de água molhada

Que vem lá de cima das nuvens gordas de algodão

Cai por cima do chapéu de couro do caboclo do cangaço

Escorre pela aba

Até cair no chão daquela secura toda do sertão

E como na correria de um calango que sai fugido

Da boca de uma cascavel chucalhenta

O cheiro da chuva vem molhar a brisa seca

A poeira baixa

O solo sede

Com a sede do chão

Se rompe na seca do sertão

Já vejo o sol tremulo

Entrando no horizonte

Passarinho se cala

É chuva.

Gotas se desprendem do céu

Milhares, múltiplas e infinitas.

Gotas a se perder de vista

Caem sobre a tarde avermelhada

Brotam e alimentam

O sorriso do velho

O couro do gado

A semente no chão

A magreza do sertão

Os buracos do chão se enchem de água

As bocas cheias vento se fartam

Da fé de um santinho protetor

Escorrem

Esfarelam-se

Bebendo da alegria em Folia de Reis

Alumiando todo aquele sonho dourado chamado sertão

Os pés que batem num baque solto de terra batida

Agora dança ao som da rabeca, viola, marimbau e flautas de pífano

Agradicendo a gotinha milagrosa que caiu do bucho do céu

E molhou os pés calejados da secura desse chão.



Caio Flavoni & Thais Merçon

(dedicado a Thais Merçon que me presenteou com musicas do Quinteto Armorial.).